Crise ou oportunidade?

Como certamente muitas de vocês, tenho estado a pensar nas listas de produtos que serão abrangidos pela subida (astronómica) do valor do IVA. Leite com chocolate e leite enriquecido com vitaminas ou cálcio, mesmo o das crianças. Sumos de fruta. Quase todas as conservas. O doce do pequeno-almoço, a margarina, o óleo. Os livros, minhas senhoras e meus senhores. Tudo isto passa de 6%, 13% ou 21% para 23%.

Cá em casa somos só nós duas, eu e a M. Felizmente tenho um emprego que não parece em risco (nunca se sabe...), mas ainda assim tenho uma filha para alimentar, vestir e educar, uma casa para pagar, e muitas contas para equilibrar.

Mas nem sequer estou a pensar em mim. E quem recebe 475 euros por mês de salário, ou 189,52 euros por mês de pensão social (pensão mínima)? E os cerca de 1,2 milhão de portugueses que recebem menos de 350 euros por mês? Ou os outros, provavelmente a maioria de nós, que ganham mais - os que ganham 1000, 1200, 1500 euros, mas têm filhos e escolas e casas e passes e gasolina e comida e muitas contas para pagar, todos os meses? Parece que a coca-cola voltou a ser para dias de festa, como era dantes (esta nem me faz muita diferença, devo confessar). Prevejo, isso sim, um grande aumento das lojinhas de artigos em segunda mão, mas pela mais infeliz das razões.

Devo avisar que este não pretende ser um texto lamuriento, nem revoltado, nem politizado. Prefiro pensar que quando a vida nos dá limões devemos fazer limonada; e se não há açúcar para a adoçar, pelo menos não vamos estragar os dentes. Até porque daqui a pouco ninguém pode pagar o dentista ;) Com isto tudo, talvez nos tornemos mais saudáveis, mais frugais, mais resilientes (palavrão moderno que significa ter capacidade de adaptação e resistência ao stress).

Estas são algumas das qualidades que os especialistas apontam como fundamentais para ultrapassar as crises:

• Acreditar nas próprias capacidades para lidar com as situações.
• Não encarar as mudanças como algo profundamente negativo e limitativo, e sim como um desafio.
• Ser aberto à novidade, e capaz de viver de formas alternativas.
• Conhecer-se a si mesmo de forma a conseguir gerir as próprias emoções e atitudes; conhecer os seus pontos fortes e fracos, e tirar partido de ambos.
• Ser criativo e inovador.
• Ser prático; conseguir responder de forma rápida e eficaz aos problemas concretos que se vão apresentando.

Pois bem, acredito que muitas de nós já reúnem estas condições. De forma geral, quem pode ser mais prático, criativo, capaz de lidar com mudanças e capaz de gerir as suas emoções, do que uma mãe? Mais ainda, uma mãe que descobriu a possibilidade de vestir os seus filhos de forma bem mais racional e acessível, através da roupa reutilizada. Segundo as estatísticas, nós – consumidoras de roupa em segunda mão - somos, na grande maioria, ainda jovens, de meios urbanos, bem informadas, instruídas, e até viajadas. Pelo menos, é este o perfil-tipo da compradora de artigos em segunda mão hoje em dia, segundo uma reportagem da RTP. É lisonjeiro, não acham? Basicamente, chamam-nos inteligentes.

E é para consumidoras como nós que eu tentarei, a partir de agora, escrever alguns artigos sobre formas de poupança em todas as situações do dia-a-dia. Com sentido prático e criatividade podemos fazer ainda mais pelos nossos lares e orçamentos familiares, e pelo meio ambiente. Afinal, este nosso planeta fica quase sempre a perder quando nós ganhamos e gastamos sem contenção, e agradece o nosso empenho (voluntário ou forçado) em viver de forma mais alternativa e comedida. Haverá males que vêm por bem.