RECEBEMOS MUITA ROUPINHA (QUASE) NOVA PARA TODAS AS IDADES, ENTRE OS 0 MESES E OS 6-8 ANOS, PARA MENINA E TAMBÉM PARA MENINO! TEMOS MUITAS PEÇAS NOVAS, LINDAS, E DE BOAS MARCAS NA NOSSA "MONTRA" VIRTUAL. VISITE-NOS!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A ler: A Maior Flor do Mundo



Estamos a reler A Maior Flor do Mundo, de José Saramago, ilustrado por João Caetano e editado pela Caminho. A M. já o conhecia, mas não se lembrava. Não é um livro fácil para crianças, e ela tem sete anos.

Ou deveria antes dizer, VIVA! Não é um livro fácil para crianças! De facto, é um livro que contraria as mais recentes directrizes do Ministério da Educação, que se materializam na apresentação da “dificuldade como barreira insuperável para a aquisição de qualquer conhecimento”, e lêem «trauma» onde reside a expectativa e a vontade de saber”, impondo “aos alunos a facilidade como caminho para a obtenção do êxito escolar”. Estas citações são retiradas d’ O Ensino do Português, de Maria do Carmo Vieira, uma obra arrepiante sobre o estado do ensino da língua materna no nosso país, que qualquer pai quererá ler, e onde verá que os senhores que recusam para os meninos a leitura de obras como O Principezinho antes dos 14-15 anos...

Bom, passemos adiante. Bons livros para as crianças, já!

Mas não de qualquer forma, claro. A M. viu O Conto da Ilha Desconhecida muito bem ensaiado pela Barraca, e agora acompanhará a leitura da Flor com o filmezinho correspondente. É que, como eu já disse e o próprio autor avisou, o livro não é fácil. Ou seja, a narração pressupõe que somos todos inteligentes (miúdos e graúdos), e que temos vontade de ir mais longe. Logo nas primeiras páginas Saramago manda o pequeno leitor “ver no dicionário ou perguntar ao professor” sempre que aparecerem palavras difíceis – e elas vão aparecer.

Saramago afirma que não sabe escrever para crianças. Será talvez uma ironia; é que hoje em dia escrever para crianças é muito parecido com escrever para tolos. Mas a minha filha, que é tão tola como todas as outras crianças que conheço (ou seja, nadinha de todo), tem uma clara preferência por boa literatura: Sophia de Mello Breyner ou Roald Dahl, em vez do Clube dos Gatinhos (e aqui estou a inventar), que só ganha por ter uma capa mais colorida. Mas, como dizem os ingleses, não se deve julgar um livro pela sua capa.

Como os meninos pequenos, até terem um domínio razoável da leitura, devem ler com algum acompanhamento, o senhor Saramago não precisa de se preocupar. A história lê-se devagar e com entoação, usando o tal dicionário se for preciso, e sem esquecer a alegria e o humor, que são a melhor forma de ultrapassar obstáculos.

A história não vou contar, mas Saramago soube recordar nela o sabor da infância – e recordaria certamente a sua, na agora famosa Azinhaga do Ribatejo. Os nossos filhos são heróis como o do livro, todos os dias. Saem de casa e de perto dos pais para explorar o mundo, vivem descobertas pessoais e intransmissíveis, mesmo que sejam contadas, e regressam no fim do dia um pouco mais crescidos. E nesse dia ajudaram a mudar o mundo, com os seus gestos pequenos mas firmes. Esta é a idade do deslumbramento, e a altura certa para começar a ler livros assim.

Sem comentários:

Enviar um comentário